11 de jul. de 2015

125 anos de O Cortiço

Há 125 anos, um português avarento que não pensava em outra coisa além de fazer dinheiro, abria uma pequena venda, esse português era João Romão, e sua incansável busca pelo dinheiro fez com que começasse a arrematar os terrenos em volta de sua venda e a levantar casinhas, uma a uma sendo povoadas no mesmo ritmo em que eram construídas.

Logo a pequena venda se transformou em taverna e depois em bazar, cada espaço vazio se convertia em novas pequenas casinhas de janela e porta, e quando já havia número suficiente de casas, um muro foi feito e um portão colocado, onde havia uma placa que dizia "Estalagem de São Romão". E foi assim, que em meio ao bairro Botafogo na Capital do Império, surgiu um enorme Cortiço. Um lugar que tinha vida própria, habitado por trabalhadores da pedreira que também pertencia à João Romão, além de mascates, caixeiros, oficiais, lavadeiras, donzelas com sangue quente em idade de casar, senhoras desgostosas da vida e inúmeras outras personalidades, cada qual com suas angustias, alegrias e muitas histórias pra contar.


O cortiço crescia tanto e tão rápido que enchia de ódio o seu vizinho Miranda, homem beirando a meia idade que vivia em um casamento infeliz com uma mulher infiel, mas não podia se separar por ter todo o seu capital proveniente do dote da esposa. Miranda comprou um palacete ao lado da estalagem de João Romão com o único intuito de deixar a esposa longe dos caixeiros que lhe prestavam serviço, e desesperá-se ao ver o crescimento do cortiço, calculando a perda do valor de sua propriedade e invejando seu vizinho, por poder gozar de toda a liberdade que julgava o outro ter. Infeliz com esse destino que a vida lhe reservara, Miranda se agarra a um único proposito que poderia lhe trazer felicidade, o Baronato. 

O Cortiço de Aluísio de Azevedo é uma obra naturalista riquíssima da nossa literatura, suas personagens, cenários e situações. retratam perfeitamente o modo de vida do Rio de Janeiro no século XIX, A forma como as vidas dessas pessoas vão se misturando e criando situações inesperadas, levando o leitor à uma deliciosa e engraçada viagem aos costumes e cotidiano das classes menos favorecidas daquela época. 

A personagem principal da obra é o próprio cortiço, que é retratado sendo como um organismo vivo, e que atinge exatamente o objetivo de Aluísio de Azevedo, que era mostrar que a mistura de raças em um ambiente de poucos recursos leva à promiscuidade sexual, à imoralidade e à degradação humana. Além de retratar a diferença social, de um lado o cortiço de João Romão com seus imigrantes, mulatos, negros (escravos e aforros), caboclos, portugueses e brasileiros que tinham em comum somente o fato de serem pobres. Do outro o palacete de Miranda, com suas damas, seus hospedes ociosos e a criadagem composta por pessoas como aquelas do cortiço. 

Um livro com tanta importância em nossa literatura, que é leitura obrigatória na maioria das instituições de ensino e, frequentemente, utilizado em provas de vestibular. E foi assim, através da escola, que há mais de quinze anos conheci e me apaixonei por essa história, tanto que a leitura que foi obrigatória para um trabalho escolar, se repetiu inúmeras vezes nos anos seguintes apenas por prazer. E por ser um dos meus livros prediletos e que presto essa homenagem à essa maravilhosa obra, que mesmo tendo se passado no século retrasado, ainda podemos encontrar grande semelhança no que acontece nos dias de hoje, como a exploração do mais fraco pelo mais forte, a desigualdade social lado a lado nas grandes cidades, a incansável busca humana pela riqueza, status e poder, o preconceito com os menos favorecidos e muitas outras situações ali narradas. 


"Aquilo já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular; de reduzir tudo a moeda. E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda às hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, de tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça, apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não podia apoderar-se logo com as unhas."





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2 comentários:

  1. Ja faz uns 20 anos que lí o cortiço mas a narrativa ainda está bem viva na memoria, ainda me lembro da decepção quando assisti o filme e o final modificado totalmente diferente do livro, ótimo post, parabéns!

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  2. nossa, faz um 9 anos que li rsrsrs. muito bom o post, ameii. Parabéns :3
    Primeiros Acertos ❥❁

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